sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Globalização e Neoliberalismo


"Até o advento da primeira Revolução Industrial do século XVIII, o mundo era constituído de realidades regionais as mais diversas, as sociedades se distribuíram na sua infinita diversidade. O advento da tecnologia industrial passa a unificar espaços área a área, de modo que o espaço vai se padronizando em prejuízo da diversidade da natureza e do homem, suprimindo a biodiversidade. Com a Segunda Revolução Industrial da virada dos séculos XIX,XX esta uniformização atinge a escala planetária.
Em menos de um século, o mundo é então a globalização da produção, dos mercados e das culturas que suprime as antigas regionalidades e a identidade cultural das suas civilizações, acarretando a desarrumação sócio-ambiental conhecida.
O espaço é a comunidade nascida da interligação do que originalmente é diverso num só único todo. Por isso que toda unidade espacial mostra um quadro de tensão. Esta tensão é mais forte nas sociedades modernas, uma vez que a diversidade é padronizada numa uniformidade espacial imposta pela técnica. Tensão que hoje atinge a escala do mundo. Por isso que a globalização vem acompanhada da fragmentação do mundo.
É a diversidade a culturas reagindo contra a uniformidade técnica planetarizada. Um conflito entre multiculturalismo e uniformitarismo técnico.
Primeiro foi a reação da biodiversidade ecossistêmica (na forma da desarrumação ambiental do planeta), agora, é a reação da homodiversidade (na forma de explosão dos separatismos)"
Ruy Moreira
A globalização : a mundialização do capitalismo
Fatos históricos marcantes ocorridos entre o final da década de 1980 e o início da de 1990 determinaram um processo de rápidas mudanças políticas e econômicas no mundo. Até mesmo os analistas e cientistas políticos internacionais foram surpreendidos pelos acontecimentos:
  • A queda do Muro de Berlim em 1989;
  • Fim da Guerra Fria;
  • Fim do Socialismo Real;
  • A desintegração da União Soviética, em dezembro de 1991, e seu desdobramento em novos Estados Soberanos (Ucrânia, Rússia, Lituânia etc.);
  • A formação de blocos econômicos regionais (União Européia, Nafta, Mercosul, etc.);
  • Grande crescimento econômico de alguns países asiáticos (Japão, Taiwan, China, HongKong, Cingapura), levando a crer que constituirão a região mais rica do século XXI;
  • Fortalecimento do capitalismo em sua atual forma, ou seja, o neoliberalismo;
  • Grandes desenvolvimentos científicos e tecnológicos ou Terceira Revolução Industrial ou Tecnológica.
O cenário internacional do início dos anos 90 foi marcado pela crescente hegemonia do ideário neoliberal como modelo de ajuste estrutural das economias e pela afirmação do domínio político e militar dos EUA, com o fim da Guerra Fria e o colapso do chamado socialismo real no Leste Europeu e na antiga URSS.
Esse movimento foi acompanhado pela evolução de novos conceitos no mundo do trabalho (qualidade, produtividade, terceirização, reengenharia, etc.), como resultado do desenvolvimento e da introdução de novas tecnologias na produção e na administração empresarial, com agravamento da exclusão social e crescimento da apropriação de riquezas do sul pelos países do norte.
A deterioração social nos países em desenvolvimento e as políticas protecionistas e excludentes dos países de capitalismo avançado tem levado à instabilidade política, em particular nos países do leste europeu, da antiga URSS e da África.
O Neoliberalismo
Modelo que vem sendo adotado a partir dos anos 80, nos países ocidentais e que tem como característica primordial o afastamento do Estado em relação à gestão de diversos setores da economia. Diferencia-se do Liberalismo clássico quanto à circulação internacional de bens e apitais. No neoliberalismo há a preocupação em se formar blocos econômicos que sob a justificativa de maior facilidade na circulação da produção (e conseqüente barateamento) cria verdadeiras fortalezas protecionistas em torno das economias mais fortes.
Podemos considerar como inauguradores do modelo neoliberal os governos de Margareth Tatcher e Ronald Reagam no início doa anos 80, quando ocorrem profundos cortes de investimentos sociais, inteiramente, percebe-se uma grande preocupação de blocos econômicos que ajudem a suprimir gastos com a circulação e produtos e capitais. No entanto os setores estratégicos da econômicas norte-americana e inglesas continuam sob protecionismo.
A luta contra o neoliberalismo é, ao mesmo tempo, uma luta contra o próprio capitalismo como sistema de exploração e dominação social.
Foram apontadas, entre as funções do neoliberalismo, a de restringir o papel do estado na garantia dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais e a de privatizar empresas públicas para favorecer o mercado. Também foi dada ênfase ao mecanismo neoliberal de transformar os cidadãos em simples consumidores, envoltos numa cultura padronizada e submetidos a valores distantes a sua própria realidade. Valores impostos, que são difundidos, principalmente, pelos meios de comunicação, pela educação e políticas culturais oficiais.
Conseqüências
"Avolumam-se evidências de que, na economia global, cada vez mais é o mercado financeiro, ou seja, as grandes corporações e não os governos que em última análise, decide sobre os destinos do câmbio, taxa de juros, da poupança e dos investimentos. Sem duvida, a liberalização e a globalização e a globalização dos mercados são altamente vantajosas para o grande capital, cujos horizontes e estratégias transbordam as fronteiras estreitas do Estado Nacional [...] Dificilmente encontrar-se-a uma referencia às prioridades sociais na retórica dos arautos da globalização"(H. Ratner, Globalização..., in Revista do IEA, USP. Set./dez 1995, p.66)
No contexto de um país subdesenvolvido, os efeitos da globalização têm sido desastrosos. Um exemplo ilustrativo foi o ocorrido com o México, que viveu sua pior crise, financeira em dezembro de 1994. O país fora, até então, o melhor aluno do FMI e do Banco Mundial; fez a desregulamentação da economia, a abertura econômica ao exterior e a política das privatizações de suas empresas estatais.
De um dia para outro bilhões e dólares de capital especulativo foram transferidos de suas bolsas de valores para outras praças. A crise financeira resultante teve as conseqüências típicas desse quadro: inflação recessão, aumento do desemprego e falências de empresas. Estamos vivendo, portanto, um momento ímpar na historia da humanidade. A globalização da economia exige as empresas nacionais um esforço para se adaptarem à nova realidade mundial, com métodos cada vez mais apurados de administração empresarial, controle eficaz do capital financeiro, novas tecnologias, baixos custos de produção, mão-de-obra altamente qualificada etc., requisitos que elas nem sempre são capazes de possuir.
No mundo globalizado, a competição e a competitividade entre as empresas tornaram-se questões de sobrevivência. Entretanto, como o poder das empresas (quanto ao domínio de tecnologias, de capital financeiro, de mercados, de distribuição, etc.) é desigual, surgem relações desiguais entre elas e o mercado. Algumas sairão vitoriosas e outras sucumbirão. Muitos setores da economia estão oligopolizados e até mesmo monopolizados, dificultando a entrada de novos competidores. Desse modo, a noção de livre mercado é relativa. Muitos setores da atividade econômica já tem "dono" e dificilmente permitiram a entrada de novos produtores. A globalização da economia e das finanças beneficia, assim, amplamente o grande capital, as grandes corporações transnacionais.
Perda de autonomia dos estados nacionais
A globalização surgiu de forma inesperada e descontrolada. Tem causado em certos países, desafia o poder tradicional dos governos e passa para as pessoas a sensação de que o mundo se transformou num ambiente selvagem, do dia para a noite.Por mais que os estudiosos apresente documentos favoráveis a essa mutação econômica, a imagem que ela tem é a dos saques a Indonésia, dos desempregados na Europa, e das empresas fechadas na Argentina. A pergunta bastante razoável que se pode fazer é: para que serve esse processo se ele sacrifica pessoas e subtrai poder de governos que são eleitos pelo povo?
A ampliação do poder das multinacionais tem promovido uma concorrência perversa entre os Estados. A globalização financeira tem limitado a capacidade dos Estados nacionais de promoverem políticas expansionistas sob o risco de serem submetidos à exclusão do mercado mundial de capitais e aos ataques especulativos de suas moedas, com graves conseqüências para a estabilização.
Essa forma de globalização favorece os países que concentram maior poder econômico e diminui a autonomia política e decisória dos Estados, que, adotando uma inserção subordinada a lógica da "Nova Ordem Mundial" passam a reduzir impostos de importação, atacar conquistas sociais e sindicais e submeter suas políticas e legislações aos interesses dos paises centrais.
"Um estado desses torna-se muito dependente dos investimentos privados e começa a fazer o que as empresas quiserem para não perder forca econômica. Vira uma relação desigual, em que o mercado tem todas as fichas na mão. Em última instancia, isso acaba afetando a confiança da democracia se as decisões estão sendo tomadas onde não temos influencia." (Claus Offe, sociólogo alemão).
Embora os impactos sociais sejam semelhantes em escala mundial, são paises da África, América Latina e do Leste Europeu que sofrem de forma aguda e acelerada as conseqüências dos programas de ajustamento econômicos neoliberais do FMI e do Banco Mundial, agravando a pobreza e levando a miséria e o desespero para extensas camadas sociais.
Na América Latina, os modelos de estabilização tem resultado forte dependência externa para garantir a estabilidade de preços. E simultaneamente tem sucateado importantes setores industriais e gerando um crescimento do desemprego estrutural.
"Se o comunismo acabou, o neoliberalismo caminha para o fim. O comunismo ao menos tinha uma idéia generosa. O neoliberalismo é o egoísmo como doutrina política, a exclusão social como preço inevitável " (Jose Sarney – ex-presidente).
E a Profecia se cumpre
O furacão que está varrendo o mundo já feriu profundamente o mercado financeiro. É um problema sério e os economistas avisam que as coisas ainda podem piorar. O comercio internacional, a produção industrial e o emprego sentiram baque da crise, mas ainda não tombaram. Se a loucura dos mercados financeiros não for detida, não é impossível que os paises mergulhem numa depressão semelhante a de 30. O cenário mais terrível, segundo ele seria o seguinte:

    • Fuga de dólares – O dinheiro já está deixando os paises emergentes, pode fugir a uma velocidade maior. Iria abrigar-se em investimentos mais seguros, como os títulos da dívida americana. Estaria criada, assim, a possibilidade de moratória generalizada, ou aumento brutal dos juros, para segurar a fuga de dólares.
    • Desemprego – A elevação dos juros não segura o investimento estrangeiro e ainda provoca um estrago adicional. As empresas, muito endividadas, começam a quebrar. O desemprego aumenta e o consumo despenca. Com isso, o comercio internacional encolhe.
    • Recessão – Com menos comercio, o mundo inteiro fica mais pobre. Até os paises ricos como os Estados Unidos, são afetados pela crise. O pessimismo toma conta dos empresários de tal forma que mesmo uma redução doa juros ou dos impostos é insuficiente para estimular o crescimento econômico.